quinta-feira, 6 de setembro de 2012



garotas quietas e limpinhas de vestidos xadrez de algodão...
  
todas as que eu conheci são putas, ex-prostitutas,
mulheres loucas. vejo homens com mulheres quietas,
delicadas – eu os vejo em supermercados,
eu os vejo andando na rua juntos,
eu os vejo em seus apartamentos: pessoas em
paz, vivendo juntas. sei que a sua
paz é apenas parcial, mas há
paz, várias horas e dias de paz.

todas as que eu conheci são viciadas em pílulas, alcoólatras,
putas, ex-prostitutas, mulheres loucas.

quando uma parte
outra chega
pior que a anterior.

vejo tantos homens com garotas quietas e limpinhas de
vestidos xadrez de algodão
garotas que não têm cara de onça ou
de predadora.

“jamais apareça com uma puta,” falo para meus
poucos amigos, “eu ia me apaixonar por ela.”

“você não conseguiria suportar uma boa mulher, Bukowski.”

eu preciso de uma boa mulher. preciso de uma boa mulher
mais do que preciso desta máquina de escrever, mais do que
preciso de meu automóvel, mais do que preciso
de Mozart; eu preciso tanto de uma boa mulher que
até posso sentir o gosto dela no ar, posso senti-la
na ponta dos dedos, posso ver se fazerem calçadas
para os seus pés passarem,
posso ver travesseiros para sua cabeça,
posso sentir minha risada à espera,
posso vê-la acariciando um gato,
posso vê-la dormindo,
posso ver os seus chinelos no chão.

eu sei que ela existe
mas nesse mundo, onde ela está
enquanto as putas continuam me encontrando?

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
do livro: ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 LETRAS)

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