sexta-feira, 1 de março de 2013


LADY MACBETH

todas as vezes em que nos separamos
lady macbeth nunca olhou para trás

todas as vezes em que nos encontramos
lady macbeth nunca olhou para dentro de mim

ela não percebia
que acendia nas páginas
todas as beatrizes negadas a dante

que amanhecia
as borboletas que guardei
com cuidado em minhas pálpebras
durante as canções nevadas

ela passava pelas tardes
com seus passos de lava derretida
atraindo minhas mariposas
com seus olhares de magma
fazendo cada uma
daquelas borboletas guardadas beijar
com toda sua fragilidade
sua boca que me gritava guitarras

ela passava pelas tardes
enquanto borboletas e mariposas
abrasadas
colidiam a seus pés

eu notava que as asas
eram míopes
a seus gestos mais simples
de incinerar cerejas

todos me avisaram
que as asas eram surdas a seus cabelos
que os seus cabelos em seus movimentos mais sutis
sangravam chamas das joaninhas

eu percebi
mas mesmo assim
não as impedia de se aproximarem de lady macbeth

pois lady macbeth achava ingênuas
minhas fragilidades
ela diria certamente inconvenientes tais delicadezas
naqueles fins de tarde

quando o fogo
era uma forma de afago
antes de afogar

assim caminhávamos nós
eu, minhas estúpidas borboletas
e aquelas ingênuas mariposas

lady macbeth passando pela tarde
vendo um mundo sem chances entre seus cabelos
enquanto de relance nos fazia
afogar em magma e morangos

certa de que não poderia haver inverno
que nos estiolasse mais
que a verdade

todas as vezes em que nos separamos
lady macbeth nunca olhou para trás

todas as vezes em que nos encontramos
lady macbeth nunca olhou para dentro de mim

Fernando Koproski
do livro “NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA”

http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx


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