terça-feira, 23 de julho de 2013

Hoje nevou em casa às 8 e meia da manhã, e então lembro o poema que escrevi para o especial “O dia da neve” da Gazeta do Povo de alguns anos atrás:

A NEVE

uns me perguntam
se a neve virá,
outros quando

a neve que eu vi
eu sei que virá
pois a neve eu sei
que aqui já está

às vezes me falam
de diferentes tipos de neve

para os esquimós
elas são:
aput
neve no chão,
gana
neve que cai,
piqsirpoq
neve que venta
e qimuqsuq
um monte de neve

não as conheço,
mas para mim
as neves também são
diferentes

e há muitas neves

a neve de sua pele
a neve desta página
a neve dos que
nunca mostram o coração
a neve no olhar depois
da queda do primeiro amor
a neve de tantas quedas
a neve precisa dos gestos dela
a neve do amigo
que se foi tão cedo
a neve de tantos cisnes
ignorados aos gestos dela

pois não poderia ser
senão neve
todo este frio
e suavidade

a neve das canções de Cohen
a neve dos mortos de Joyce
a neve das canções
para não morrer

a neve dos que
não são estas canções

mas mais que a neve,
a certeza da neve
a certeza de que há colinas,
vales
e montanhas
de páginas em branco
me esperando

pois na certeza
imperecível
das páginas nevadas,
a certeza
de que nenhum destes longes
precisa do que escrevo

a certeza de que a neve
dessas páginas
seja incorrompível
aos versos meus

não importa
se dúvida
nas canções,
colinas
e cisnes dos gestos dela,

ainda assim esta certeza:

a certeza de que
nenhuma dessas neves
precisa do que escrevo,

apenas de mim


FERNANDO KOPROSKI


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