quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O Bukowski nasceu num 16 de agosto, e pra comemorar, essa semana é toda bukowskiana. E dos escritores que conheço, nenhum é mais bukowskiano do que o Mário Bortolotto. É incrível a qualidade de tudo o que esse cara faz, sejam livros de contos, poemas, romances ou peças de teatro. Ele absorveu a influência do velho Buk, tridestilada em velhos toneis de poesia, terra vermelha, angústia e selvageria, e acabou construindo uma obra original. E eu tive o grande prazer de ter ele, que é meu amigo, escrevendo esta orelha para o livro ESSA LOUCURA ROUBADA... do velho Buk:

A LOUCURA NOSSA DE CADA VERSO

Bukowski sempre acertou o touro no primeiro golpe. É o amigo mais próximo com quem sempre pude contar. Chegando em casa totalmente torto e angustiado, era só ir lá e abrir em uma página qualquer, e ele dava o toque “eu então diria a eles para terem outro caso de amor infeliz e nunca usarem uma fita de seda na máquina de escrever”. Era só a guria encher o saco com suas cobranças sem limite e ele avisava paternal “uma esposa rosnando no portão é mais do que qualquer homem pode suportar”. Era só Deus avisar que meu tempo tava se esgotando e eu sorria repetindo baixinho de modo que Ele não me escutasse “acredito em fazer por merecer nosso caminho / mas também acredito em um presente inesperado”. Bukowski é o amigo que senta no balcão, pede uma cerveja e nem olha na sua cara, mas é bom saber que ele tá por ali. É bom saber que a noite vai se estender, e se eu conseguir arrastar uma piranha loira postiça qualquer pra um quarto no hotel vagabundo do outro lado da rua, ele não vai se dar nem ao trabalho de conferir o material.

Fernando Koproski é o cara certo pra traduzir Bukowski. E se a gente ainda levar em conta que os nomes rimam e que dá um belo hai-kai, eu diria com toda a certeza que o jovem Koproski entende plenamente o velho Bukowski, conversa com ele sem importuná-lo com qualquer psicologismo babaca, e sempre faz as perguntas certas, não fala de poesia e nem de outros escritores, deixa o velho falar só quando tem vontade e se ele ferrar no sono, na poltrona, completamente bêbado, Koproski não vai incomodá-lo. Vai deitar resignado no sofá e esperar até o outro dia pra continuar o serviço. E quando Bukowski acordar com sede no meio da tarde e ver aquele jovem cabeludo deitado no sofá, vai berrar algo do tipo “Quem diabos é você?”. Koproski vai sorrir compreensivo e como um mestre zen, vai esperar o Homem se acalmar & ouvir todos os Brahms & beber todas as biritas & vomitar todos os palavrões inimagináveis, enquanto grifa em seu caderno de anotações as palavras “fragilidade” e “violência”. Faz um círculo em volta de “desespero” e recosta-se no sofá.

Koproski e Bukowski, meus camaradas, vou dizer uma coisa. Ninguém tasca. Porra nenhuma que vocês vão ficar com essa loucura só pra vocês. Ela também é minha e estamos conversados. Depois de toda essa minha gana persecutória, não cheguei até aqui pra voltar pra casa com toda essa sanidade doentia. Vocês não vão se livrar de mim assim tão fácil.

Mário Bortolotto





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