terça-feira, 10 de setembro de 2013

Em homenagem ao dia dos veterinários que foi ontem, um texto que escrevi anteanteanteontem... meus parabéns a todos os vets! e em especial, à minha irmã Dra. Letícia Koproski!

ISTO NÃO É UM POEMA, MAS DEPENDENDO DE QUEM LÊ, ATÉ PODE SER...

Hoje ele está mal, mas ele vai se recuperar. Sei que ele irá se recuperar. Em 2009, ele estourou os ligamentos do joelho. Fez uma cirurgia delicada onde inseriram uns 4 pinos em cima e embaixo da lesão, para recuperar o movimento do joelho. A cirurgia correu bem, mas ele teve que ficar isolado num espaço restrito de 2m2 durante um mês, e receber medicação e carinho e cuidados especiais para recuperar a articulação.

Em outras palavras, como Mailon era muito brincalhão – praticamente vivia saltitando e pulando alto – agora nessa fase pós-operatória seus “pulinhos” deveriam ser vigiados, pois poderiam representar uma ameaça à sua pronta-recuperação.

Pois bem, ele passou uns 40 dias com seus movimentos restritos e acabou por se recuperar. Mas um dia depois de ser liberado pelos veterinários, Mailon se exaltou. Talvez lembrando o velho propósito de proteger a casa ou defender a sua dona, ele saltou diante de uma visita indesejada e arrebentou os ligamentos novamente...

Levamos ele às pressas ao veterinário mas o veredito era unânime: ele deveria fazer outra cirurgia, idêntica à anterior, ter o seu espaço restrito e ser medicado de 8 em 8 horas, tudo de novo da mesma maneira.

Começamos a medicação, preparando-o para a cirurgia, até que, depois de algumas semanas, um belo dia isso aconteceu: Ele parou de mancar... a precisão de um novo raio X assegurou: o ligamento do joelho se refez. O raio x era bom, bom o bastante para detectar o “milagre”. E ele não precisou refazer aquela cirurgia.

4 felizes anos depois, Mailon começou a andar em círculos obsessivamente, girando em sentido anti-horário sem parar. Era tanta volta que nosso cão dava, que chegou várias vezes a ensanguentar as patinhas. As patas sangravam mas ele continuava andando e girando em círculos viciosos.

Levamos ele aos atuais veterinários, e depois de uma extensa bateria de exames se diagnosticou: CÂNCER no fígado. O tumor fazia com que o fígado não funcionasse direito, acumulando toxinas no sangue de Mailon, que ao ser bombeado para o cérebro, causava danos neurológicos visíveis.

Alguns dias depois, graças à exímia eficiência dos doutores Rodrigo e Fernanda, a cirurgia correu bem. Mailon retirou 2 tumores malignos. Durante o pós-operatório, enquanto esperávamos que ele melhorasse, notamos um líquido róseo persistente saindo de sua barriga. Duas semanas depois de uma pesada bateria de antibióticos, se notou que ele tinha sido atacado por uma incomum infecção bacteriana. Estafilococos Aureus era o nome do vilão que resistia aos antibióticos de amplo espectro e que rapidamente crescia dentro de nosso cão.

E qual foi a recomendação? Administrar durante 3 ou 4 semanas um antibiótico raro, que tinha saído há tempos do mercado farmacêutico. Dessa forma, ao longo de dias, passamos eu e Ingrid (a dona de Mailon) a vasculhar todas as farmácias antigas de SJP e coletar estoques do remédio.

Depois de muita medicação, carinho e compreensão, ele estava lá de novo. Mailon eliminou a temível bactéria e deixou de andar em círculos. Parecia que dessa vez tudo estava bem e eu ousei suspirar “Deus, obrigado!” para os céus. Mas o alívio ainda era só uma ideia no meio de tantos medicamentos.

Do antigo buraco onde se fez a cirurgia, começou a se formar uma bolinha do lado de fora da barriga de Mailon. No início era apenas uma bola de gude de gordura, mas com o passar do tempo e apesar das várias tentativas frustradas dos veterinários, a bolinha de gude virou bola de ping pong, que virou bola de sinuca, que depois de semanas virou bola de futsal...

Nada parecia funcionar para interromper a rasgadura muscular que ele tinha sofrido. Explico, os pontos internos da cirurgia abriram e passar a rasgar não só a parte costurada como toda a musculatura que protegia os seus órgãos internos de forma longitudinal e cruel, formando uma hérnia crescente.

Naturalmente, a proximidade de uma nova cirurgia não preocupava apenas a sua dona, mas a todos da clínica, pois seria mais uma agressão cirúrgica num cão debilitado de 15 anos de idade. Mesmo assim, fazendo figa e rezando nós levamos ele para uma nova cirurgia, que foi surpreendentemente bem-sucedida.

Pois bem, depois de uns 10 meses de combate, Mailon sobreviveu e se recuperou. A sua dona não dorme uma noite inteira há quase um ano. E mesmo assim, noite a noite, com olheiras, enxaquecas, fraquezas e diversas quedas de pressão, ela esteve lá, ao lado dele, medicando-o, acariciando-o, abraçando-o no meio das diversas noites em que os remédios fortes se revelavam fracos.

Hoje ele está bem, voltou a tomar remédios ontem à noite após uma queda acidental. Mas isso não há de ser nada, né Mailon? Você e a Ingrid já passaram por muitas coisas piores. E não é agora que ela deixará de cuidar de você, rezar por você, ou postar mensagens no facebook esperando dividir com os amigos verdadeiros sua preocupação legítima. E tudo isso por quê?

Porque isso é AMOR: puro, forte e imenso e que se expande em várias direções. Muitas das quais nós às vezes nem entendemos, ou sequer suspeitamos. Já outras nós intuímos. E outras, Ingrid, nós temos certeza.

O amor abre uma cratera por onde passa, escava a pele e a carne, enquanto suas ondas de choque se propagam de forma luminosa e irreversível.

Acreditando nisso, nós combatemos o Câncer do Mailon, o câncer da Afrodite (nossa gata e filha primogênita) recentemente, e dia a dia estamos combatendo o câncer da minha sogra querida, a Margareth.

No mínimo por 3 vezes no último ano, eu presenciei o milagre e nós vencemos o invencível. Nós pedimos a deus por 3 milagres e ele nos deu os três. Ao teu lado, Ingrid, eu vi ele – o milagre – surgindo como um sol de carne e sangue dourado, rasgando a noite e aos poucos diminuindo a nossa escuridão.

6 de agosto de 2013
Fernando Koproski
(pai do Mailon, Don Juan, Afrodite, Manuela, Angelina, e poeta nas horas vagas...)

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