segunda-feira, 14 de outubro de 2013


entrei no carro com a Helen e a visão
de sua meia-calça até o joelho passou a martelar meu cérebro.
lamentei muito que eu nunca fosse possuir nada bom,
nada como ela,
que nada bom jamais me pertencesse
não porque eu estivesse sempre pobre de dinheiro
mas porque eu era pobre ao me expressar cara a cara.
talvez eu amarelasse como o sol
mas também era tão ardente e sincero quanto o sol
em algum lugar lá dentro de mim
mas isso ninguém jamais descobriria.

com certeza eu acabaria eternamente me lamentando sobre uma
xícara de café em algum parque onde os velhos jogam
xadrez ou algum tipo de jogo idiota.
merda! merda!
e então Helen trocou a marcha e nós rodamos pelas
preciosas colinas e não havia nada que eu pudesse dizer pra ela
sobre sua beleza ou o quão valentão eu era
ou que só sentar e ficar olhando pra ela durante um mês
jamais tocá-la novamente
seria o meu único desejo
mas como qualquer canalha eu estava provavelmente mentindo pra mim mesmo
provavelmente eu queria tudo tudo

mas agora aos 45
depois de viver com uma dúzia de mulheres e não ter amado nenhuma
agora eu estava louco, acabado. conforme ela
me levava pelas colinas tudo gritava dentro de
mim, e enquanto seguíamos eu continuava falando
(pra mim mesmo, é claro)
vai passar, babaca,
tudo passa,
é tudo uma piada
rindo da sua cara,
esqueça, pense em cães mortos coisas mortas pense em
si mesmo: rejeitado, falido, comum, um poeta supostamente escrevendo
coisas profundas, mas você realmente não consegue escrever sobre nada a não ser
sobre SI MESMO. não é verdade? não é verdade? você é um escroto,
um idiota egoísta só querendo uma saída fácil? você quer
dinheiro, estádios lotados de aplausos, reconhecimento e um livro
de poemas que ainda seja admirado no ano 2179.

fragmento do poema “MALDITO RIMBAUD”
de CHARLES BUKOWSKI
traduzido por Fernando Koproski
na antologia poética:
AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA



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