sexta-feira, 23 de maio de 2014

Sempre odiei esperas telefônicas. E esse poema é um jeito de desvirtuar poeticamente (ou sacanear mesmo...) o propósito estupidamente objetivo delas...

boa-tarde
bem-vindo ao Retrato do amor quando verão, outono e inverno

se deseja informações sobre o verão, tecle 1
para orientações sobre o outono, tecle 2
para acessar o inverno, tecle 3

...

a opção escolhida é: OUTONO

se deseja lembrar de outonos passados, tecle 1
para esquecer completamente dos outonos passados
ou para solicitar a supressão dessa estação, tecle 2
para informações sobre a possibilidade de novos outonos, tecle 3
para reclamações sobre a aguardada beleza
ou a sublime impertinência dos ipês no fim dessa estação, tecle 4
para informações relativas à incômoda
queda de flores em seu caminho, tecle 5
como proceder em caso de felicidade melancólica, tecle 6
como proceder em caso de presenciar
a indigna queda livre da verdade
na inconformada juventude de um olhar, tecle 7
para informar danos irreversíveis relativos a esta estação, tecle 8
para confessar qualquer forma sensível
de suicídio justificável do amor nas manhãs nubladas, tecle 9
para voltar ao menu inicial, aguarde na linha

Fernando Koproski
do livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras, 2014)


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