terça-feira, 29 de julho de 2014

NÃO SE FAZEM MAIS POETAS COMO ANTIGAMENTE

não se fazem mais poetas como antigamente
antes um poeta se alistava na guerra da Grécia,
traficava armas na Abissínia
ou era fuzilado numa vala comum em Granada

antes um poeta era sequestrado por corsários
ou tinha a mão esquerda inutilizada
numa batalha pela Itália

hoje poetas participam de mesas literárias
ou da mais nova antologia,
seus feitos heroicos são seus blogs
e os concursos de poesia

antes um poeta ficava cego
servindo ao exército na África
ou era preso por causa de uma briga
e depois exilado na Índia

antes um poeta quando finalmente
voltava para sua terra
perdia seu amor e riquezas,
tudo que ele tinha num naufrágio

hoje entre um e outro plágio
poetas levam uma vida frágil

onde dar uma palestra na universidade
ou ministrar oficinas de poesia
para a fundação cultural de sua cidade
são suas maiores ousadias

não se fazem mais poetas como antigamente
antes a poesia que vazava das veias
era a mesma que se escrevia,
o mesmo azul incendiado num só grito

antes para um poeta
a pele era o melhor papiro,
sua vida mal cabia num manuscrito

hoje um poeta é apenas isso:
uma música medíocre,
um silêncio pálido e aflito,
um ou outro ruído

e tenho dito

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)


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