segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Esse poema faz parte do livro “A teoria do romance na prática”. Dediquei ele à poeta Barbara Lia. Pena que ele continua atual... pois a arte na província do Paraná continua sendo contada como uma piada, sem graça. Editores são míopes (interessam-se mais por políticas do que por poéticas), jornalistas não leem (quando muito recortam e colam releases) e a academia, bem a academia nunca fez muita diferença mesmo... Ela continua uma estufa ridícula que estufa o peito e só cultiva plantas estéreis. Mas não esquenta, Bárbara, a poesia tem as raízes fortes, negras e claras. Ela trabalha lenta e se move em silêncio, longe das festinhas literárias, dos conchavos políticos e das sacanagens dessa vida. Um belo dia a poesia estoura essas calçadas bonitas...

SÓ UMA DORZINHA
para Bárbara Lia

Ontem estava com dor de cabeça
Anteontem estava com dor de cabeça
Hoje estou com dor de cabeça

Anteontem estava com dor de cabeça
por ter dormido pouco

Ontem estava com dor de cabeça
por não ter dormido nada

Hoje estou com dor de cabeça
por ter dormido demais

Caro leitor, nessa situação,
o que a gente faz?

Já tomei, entre aspas, várias “aspirinas”
E diversos sedilax

Mas a dor continua
E não é uma coisa
só da minha cabeça

Ah, poetas e professores de literatura
antes que me esqueça:

Isso não é um poema
tampouco é o fim do meu lirismo
ou o começo de qualquer outra doença

Esses versos são apenas o que são
como o osso é músculo
e a carne é sangue
e o sangue é pulmão

É, talvez esse poema não seja
o que você pensa...

Só sei que ainda serei pra vocês:
aqueles versos resistentes à qualquer analgésico
e
uma bela dor de cabeça

Fernando Koproski
no livro A TEORIA DO ROMANCE NA PRÁTICA (livro 3 da série “A complicada beleza”) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/teoria-do-romance-na-pratica-a-aut-paranaense-lv395565/p

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