quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

LEONARD COHEN no GLOBONEWS LITERATURA

A MIL BEIJOS DE PROFUNDIDADE antologia poética de LEONARD COHEN
http://www.livrariascuritiba.com.br/mil-beijos-de-profundidade-a-aut-paranaense-lv409219/p
ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR  antologia poética de LEONARD COHEN
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana-lv220048/p

domingo, 22 de janeiro de 2017

Hoje chego aos 44 (do primeiro tempo, eu espero...) e lembro o poema "Perdendo as medidas" do livro "A teoria do romance na prática". Será que já estou velho o bastante para perder as medidas? Como dizia o Leonard Cohen: "Eu deveria viajar sozinho entre os pinheiros. Eu deveria me controlar. Meu deus como sua pele é macia e dourada. Eu poderia vender os túmulos de minha família. Sou velho o bastante para isso. Sou velho o bastante para ser arruinado". rsrs... Penso nisso. Escuto os solos do Eddie Van Halen em "dreams" (https://www.youtube.com/watch?v=zsXCs41DkWs). Olho minhas felinas e filhocães que ignoram qualquer uma dessas considerações... Eles encontram a resposta de forma natural, têm a sabedoria "à flor dos pelos...", e mais uma vez acabo encerrando a discussão com o velho Buk: "o que vale mais
é o teu talento
pra atravessar o
fogo"
    Agradeço aos meus amigos, minha mãe e irmãs por terem me suportado por tanto tempo... Agradeço à Ingrid, por suportar o meu pior e melhor, diariamente! E entre um solo e outro do Eddie (https://www.youtube.com/watch?v=JgxA3C52jqc), posto o poema com fotos de nosso dia a dia. Uma foto para cada estrofe do poema. Espero que vocês, meus amigos, se divirtam assim como eu me divirto e aprendo diariamente com esses meus filhos... abraços, fk
poema "Perdendo as medidas" de Fernando Koproski 
do livro A TEORIA DO ROMANCE NA PRÁTICA 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Leonard Cohen: o artesão da palavra
Nova coletânea do canadense Leonard Cohen, 'A Mil Beijos de Profundidade' revela as várias facetas do poeta.
20/01/2017

 A morte de Leonard Cohen (1934 – 2016) em novembro pegou a todos de surpresa. O cantor, compositor, prosador e poeta canadense acabara de lançar o disco You Want it Darker, que acabou se revelando um verdadeiro e belo canto do cisne. Seu último livro publicado foi Book of longing, de 2006, no qual faz uma reflexão emocionante e crítica sobre sua carreira como músico e como poeta. E são justamente os poemas dessa obra que compõem, em grande parte, a coletânea A Mil Beijos de Profundidade (7Letras, 182 páginas), organizada pelo poeta e tradutor curitibano Fernando Koproski, responsável também pelo primeiro volume poético de Cohen, Atrás das Linhas Inimigas do Meu Amor – que chega agora à sua segunda edição.

Alguns dos poemas são bem conhecidos: “Chelsea Hotel #2”, “So long, Marianne”, “Hey, that’s no way to say goodbye”, “I’m your man”, “Hallelujah” e outros. Todos eles se transformaram em canções imortalizadas pelo próprio Cohen e por uma miríade de intérpretes – de Renato Russo à Lana del Rey. De versos conhecidos a poesias confessionais, Leonard se mostrou um artesão da palavra, capaz de esculpir versos por décadas. Uma anedota contada por Sylvie Simmons, sua biógrafa, relata um encontro entre Dylan e Cohen, por volta de 1985. O compositor norte-americano – trinta anos antes de seu Nobel – pergunta a Leonard quanto ele levou para escrever “Hallelujah”, que envergonhado responde apenas: “não demorou muito, apenas alguns anos”. Quatro anos, na verdade. O embaraço fazia sentido: Dylan revelara que havia precisado de 15 minutos no banco de um táxi para criar “I & I”.

De versos conhecidos a poesias confessionais, Leonard se mostrou um artesão da palavra, capaz de esculpir versos por décadas.

Todo esse rigor fica muito claro nas linhas esculpidas de “Vai livrinho” (“Go little book): “Vai livrinho/ E se esconda/ E tenha vergonha/ De sua irrelevância”. Ou no poema que dá título para o livro e ganhou sua versão musical no álbum Ten New Songs (2001), um mantra sobre a paixão e a devoção quase religiosa de Cohen pela mulher amada. Como Koproski explica na apresentação, A Mil Beijos de Profundidade reúne as muitas personas acompanharam Leonard por toda a sua vida: o monge zen budista, o conquistador born in a suit, o silencioso, o compositor e o diplomático. Ele transitou entre todas as formas possíveis, quebrou convenções, estabeleceu padrões e, acima de tudo, foi um grande devoto da beleza.

“Se isso parece com um poema/ também posso te avisar desde o início/ que não era pra ser./ Não quero transformar qualquer coisa em poesia”, adverte em “A Canção do corno”. Por ironia, ou não, Cohen foi um verdadeiro exímio fazedor, fazendo poesia do sublime e do banal – imortalizando sua relação com o divino e também sua paixão por mulheres avassaladoras. E tudo isso, com uma elegância que se tornaria uma espécie de epígrafe do autor.

Cinza

Pensar em Leonard Cohen é refletir sobre o valor do verso, sobre a potência da poesia e a importância do fazer poético. Dizia que a poesia era uma evidência da vida: “se tua vida alimenta o fogo, a poesia é só a cinza”. No entanto, essa mesma cinza é sagrada, como uma cremação, e é jogada ao mundo pelo poeta. É com o vento que ela ganha asas e alimenta, retroalimenta a vida, e se transformando na lenha que serve de combustível para o fogo.

Por isso, A Mil Beijos de Profundidade é tão importante, criando – mesmo que por uma coincidência macabra – um belíssimo tributo a um homem que viveu cada dia de sua vida pela e para a arte.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2017


JORNAL DO COMERCIO - PERNAMBUCO

As letras e poesia de Leonard Cohen em traduções
Dois livros mostram a criação literária do músico, morto em novembro do ano passado

Publicado em 11/01/2017, às 06h12

Leonard Cohen foi um dos músicos mais celebrados por suas letras
Reprodução


Uma das grandes notícias literárias de 2016 teve como protagonista um músico – o Nobel da Literatura para Bob Dylan. Não é coincidência que o melhor comentário sobre o assunto também veio de outro gigante musical, o cantor e compositor canadense Leonard Cohen, que viria a falecer menos de um mês depois da notícia: ao falar sobre a premiação, disse que o gesto da Academia Sueca era como “dar uma medalha ao Monte Everest por ser a montanha mais alta do mundo”.

Cohen talvez fosse uma das poucas estrelas que poderia se equiparar, em letras e escritos, ao novo Nobel. Felizmente, não é caso de tentar definir se ele seria uma montanha maior ou menor que Dylan, mas de reconhecer a monumentalidade das duas obras. O próprio Cohen fala disso em um poema: “Alguns homens/ deveriam ter montanhas/ para levar o seu nome através do tempo”.

Dois volumes com antologias de letras e poemas de Cohen, lançados agora pela Editora 7Letras, são uma bela amostra da poética do músico de voz cavernosa. Já publicado anteriormente, Atrás das Linhas Inimigas de Meu Amor foi reeditado e ganhou a companhia do volume A Mil Beijos de Profundidade – os dois saem em edição bilíngue com tradução e seleção do poeta e escritor Fernando Koproski. Os volumes, é bom ressaltar, já estavam planejados antes da morte de Cohen.

Sem a presença da voz marcante ou das melodias, é difícil deixar passar (como se a mera audição já não deixasse isso aparente) a beleza dos versos de Cohen. Um breve olhar sobre a vida dele atesta a importância das palavras: desde o colégio, antes mesmo de começar uma carreira musical, ele investiu no ofício da escrita. Já aos 22 anos tinha ganhando um concurso de versos, publicava em revistas literárias e lançava o seu primeiro livro de poesia, Let Us Compare Mythologies (1956). Na obra seguinte, The Spice-Box of Earth (1961), começaria a chamar a atenção da crítica canadense, que o chamaria de “provavelmente o melhor jovem poeta do Canadá inglês da atualidade”. Até o seu último livro, The Book of Longing (2006), publicou dois romances e mais seis volumes de poesia, levando em 2011 uma das grandes premiações literárias internacionais, o Prêmio Príncipe das Astúrias.

Os versos de Cohen são a origem e a extensão de sua música: são alimentados por imagens da mesma natureza, são feitos das mesmas obsessões, soam, como já disse Bob Dylan sobre a música do colega, cada vez mais como orações. Falam sobre o amor, o tempo, o horror, o sagrado, o profano, o belo, o desejo, as perdas e a permanência, como elenca Fernando Koproski na apresentação de Atrás das Linhas Inimigas do Meu Amor.

O músico canadense, ao falar da sua poesia, a descreveu como uma “evidência da vida”. “Se a tua vida alimenta o fogo, a poesia é só a cinza”, afirmou. Para o tradutor, é preciso entender que os versos de Cohen são bem mais do que isso, são, no mínimo, “cinzas luminosas”, incandescentes em suas palavras.

LETRA E POEMA

Além de textos restritos ao papel, em várias dessas obras, suas canções apareceram como poemas independentes, antes ou depois de serem gravados. Segundo Fernando, não é uma casualidade. “Isso porque elas também são poemas, visto que se comportam como poemas. (...) Sim, as canções pensam, agem e sentem como poemas, elas sobretudo falam como poemas. E, da minha parte, não poderia traduzi-las, nem imaginá-las de outra forma, a não ser como os grandes poemas que são”, explica no prefácio de A Mil Beijos de Profundidade.

Fernando teve uma missão difícil: se é preciso manter as imagens, as rimas, o ritmo e a fluência nos poemas, nas canções o desafio é ainda maior. As letras ficam incrustadas na mente do ouvinte, e qualquer mínima alteração de sentido (obrigatória na tradução de versos, que é sempre uma reescrita) pode soar estranha. Mas como é bom ler também, em Até Mais, Marianne, “teu corpo está em casa em qualquer oceano” ou “há uma luz nua em cada palavra”, trecho de Aleluia.

De alguma forma, em letra ou poesia, Cohen tem uma poética única, profunda, que permanece em imagens depois de ser lida ou ouvida. Fernando a define como uma “lírica imprescindível, sofisticada e de grandeza única”. Em um trecho de Outro Poeta, o compositor de Hallelujah diz: “Outro poeta terá que dizer/ o quanto eu te amo”. Não, foi Cohen quem soube, de alguma forma, escrever, e cantar esse amor – sombrio, irônico, erótico, transcendente – que tantas outras pessoas sentiram e ainda vão sentir.

TRADUÇÃO

Títulos

Tive o título de Poeta
e talvez eu fosse um
por um tempo
O título de Cantor também
estava bem de acordo comigo
embora
eu mal conseguisse sustentar o tom
Por muitos anos
fui conhecido como Monge
eu raspava a cabeça e usava um manto
e acordava bem cedo
Eu odiava todo mundo
mas agia com generosidade
e ninguém me descobriu
Minha reputação
como Sedutor era uma piada
Ela me fez rir amargamente
durantes as dez mil noites
que eu passei sozinho
(...)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/12/1846023-ligacao-entre-letra-de-musica-e-poema-e-radical-em-antologia-de-cohen.shtml

Ligação entre letra de música e poema é radical em antologia de Cohen

LEONARDO GANDOLFI
ESPECIAL PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
31/12/2016  02h42

"A Mil Beijos de Profundidade" traz os versos de Leonard Cohen em tradução e seleção de Fernando Koproski. É a segunda vez que o curitibano traduz Cohen, a primeira foi em 2007 na coletânea "Atrás das Linhas Inimigas de meu Amor" (7Letras).

A nova antologia tem dois núcleos. O primeiro é dedicado às canções-poemas, numa reunião de hits, com versões que não estão longe da fluidez do texto em inglês.

Já o segundo núcleo traz textos publicados em "Book of Longing", último livro do músico. Como as canções, os poemas escolhidos por Koproski ligam-se especialmente ao campo amoroso, aqui vasto e com muitos desdobramentos, entre eles, um autorreflexivo.

O poema "Outros Escritores" leva essa autorreflexão longe, porque nele o poeta se compara ao amigo Roshi, mestre zen que o acolheu durante anos em um mosteiro. É justamente depois desse paralelo com a vida monástica que surge no texto uma "jovem generosa" cujo zíper aberto da calça faz com que Cohen encoste diretamente na "fonte da vida".

Partindo ainda desse tom autorreflexivo, páginas depois leem-se versos assim: "No caminho da solidão/ Cheguei onde mora a canção/ e lá permaneci/ metade da minha vida". Certos poemas funcionam também como espaço de meditação sobre as canções, mas isso ocorre, é claro, sem hierarquia entre gêneros.

Nesse sentido, os dois trechos a seguir são uma boa ocasião para Cohen abordar como música e poesia se confundem na personagem do autor: "Tive o título de Poeta/ e talvez eu fosse um/ por um tempo". Mas, na sequência, é possível ver que etiquetas são provisórias e mudam como máscaras: "O título de Cantor também/ estava bem de acordo comigo/ embora/ eu mal conseguisse sustentar o tom".

O certo é que, aliando ironia a um misto de humildade e elegância, sua obra segue no encalço da beleza, podendo, com isso, desembocar numa consciência do malogro: "Meu tempo está acabando/ e eu ainda/ não cantei/ a verdadeira canção/ a grande canção".

Que o leitor não se deixe levar inteiramente por essa modéstia, pois Cohen teve verdadeiros e grandes momentos não só com sua "voz de ouro", mas também no silêncio dos poemas. Alguns deles estão na antologia.

Quanto à tradução, às vezes Koproski tem soluções felizes, às vezes, discutíveis. E isso faz parte do desafio que é traduzir boa poesia. Ainda mais quando se trata da confluência radical entre poema e letra de música.

Por falar em radicalidade, que bom encontrar os célebres versos de Cohen em que o rei Davi busca os acordes perfeitos de uma melodia impossível. Poucos foram capazes de um belo malogro como este: "Começa assim: a quarta, a quinta/ Uma nota desce, outra sobe, sinta/ Como o rei se complica compondo Aleluia!". 

A MIL BEIJOS DE PROFUNDIDADE 
Avaliação: ✶✶✶✶ Muito bom
AUTOR Leonard Cohen
TRADUÇÃO Fernando Koproski
EDITORA 7Letras
QUANTO R$ 45 (184 págs.)

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ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR
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10. Esperando pelo milagre

Quando passei para o segundo ano da faculdade, resolvi ser idiota mais uma vez. Não por cometer a mesma idiotice duas vezes mas sim por ser idiota novamente. Isso são duas coisas bem diferentes, mas mesmo um idiota como eu sabe diferenciá-las.
O motivo de eu ser um idiota? A poesia, é claro. Mais uma vez a poesia... Naquela noite eu seria um idiota mais uma vez por estar lançando dois novos livros de poemas. O primeiro, como diziam os jornalistas, resumia meu “percurso poético” nos últimos quatro anos. Já o outro, continha fragmentos de um longo texto em prosa, aos quais os críticos brilhantemente decidiram por chamar de ‘poemas em prosa’. Na verdade, este era o meu melhor texto até o momento. Tinha escrito ele em 26 noites ininterruptas durante o mês de janeiro, ouvindo muito Bring on the dancing horses do Echo and the bunnymen e quase furando o Lp do Leo Cohen que tinha Waiting for the miracle.
E tanto esperei que o milagre veio, não como eu esperava mas na forma de uma morena de olhos negros. Olhos feitos de noites sempre foram os que mais me assustavam, pois na escuridão sem uma sequer lasca de luz de olhos como aqueles eu sabia que seria aprisionado. Não bastava Lenora ter os olhos negros e de relance, por cima da taça de vinho, olhar fixo pra luz de meus olhos, não bastava ela ter testemunhado de longe minha luz naquela noite fria de julho, ela queria mais, ela tinha que ter aquela luz só para ela, arrancar o meu brilho de ponta de faca e aresta de estrela nem que fosse à força.
Foi assim que ela começou, primeiro com uma conversa bobinha, beirando o óbvio recorrente de mais uma noite de lançamento: “Que bacana que você escreve... Sabe que eu também? Desde pequena eu escrevo...” E depois me atingindo com eficácia, ao dividir comigo a mesma borda da taça de vinho marcada com seu batom, enquanto disse: “E então, gostou do meu gosto?”
Autografei uns cinquenta livros naquela noite, revi velhos amigos e principalmente não reconheci a maioria dos que estavam presentes. Embora fosse um lançamento só para amigos e familiares, começaram a entrar uma série de desconhecidos no coquetel. É claro que o atrativo para tantas mentes ávidas não era a minha poesia, mas sim as oitenta garrafas de cabernet sauvignon que o garçon distribuía sem parcimônia pelo salão.
Vinho, poesia e aqueles olhos negros de Lenora: só podia dar merda. E deu. Depois do lançamento, fomos pra casa de uma amiga dela e entre uma tequila, dois conhaques e mais vinho, arrastei ela pro banheiro. Enquanto os convidados aumentavam o som e a síndica interfonava ordenando inutilmente pra baixar o volume, ela começou mordendo o canto da minha boca. Lasca a lasca líquida que ela roubava de meus lábios, o som quente de sua pele me atritava, me suavizava e me atritava com sua saliva novamente. Queria um beijo dela por inteiro, mas isso ela não me dava. Só mordia minha boca, fazendo eu derramar vinho na meia-taça do seu sutiã. Ela só mordia cada vez mais forte minha boca, sorvendo vinho e conhaque da mucosa de meus lábios e abrindo pétalas de licor de cereja entre meus dedos que agora nadavam devagar em seu púbis com força e suavidade. Nem deu tempo de tirar a saia dela. De pé mesmo, rasguei a meia-calça vermelha e afundei meus dedos, dois dedos, depois três dedos dentro daquela pequena piscina quente e apertada de licor de cereja que era a sua buceta.
E ali, sem querer, bati na torneira do chuveiro que abriu molhando seus cabelos de leve. Foi quando olhei pra ela e vi que estava perdido. Ela tinha ficado ainda mais bonita com os cabelos molhados... Não deu outra, abri o chuveiro com tudo. E naquela noite fria, o chuveiro quente molhou totalmente as nossas roupas. Segurei ela contra a porta do box e meti com força, fixando ela no meu centro. Enquanto a água aquecia e se esquecia entre nossos lábios, ela gritou em silêncio no meu ouvido, mordendo em meus lábios o orgasmo mais lindo que ela teria, um puro livro de poemas que eu jamais tinha visto. Minhas pernas cederam junto com as pernas dela e nós caímos no chão do banheiro. Ela se ajoelhou sobre mim, as suas coxas em cima do meu peito, e enquanto a água ainda nos conduzia lentamente pela correnteza quente do sol líquido da madrugada que nos liquefazia, nos desmanchava e nos preenchia de prazer, ela disse: “Poe, seu louco...”
Eram duas da manhã e a festa estava no auge. Trinta pessoas num apartamento minúsculo cantando Blur. Song 2, é claro.
Lenora não pediu e nem quis me dar seu telefone. Ela foi embora depois de emprestar umas roupas da dona do apartamento, e eu fiquei no banheiro até às quatro e meia, tentando inutilmente secar, com o secador de cabelo da anfitriã, as minhas roupas.
Com três livros publicados, a roupa encharcada, o gosto de um beijo machucando de leve a boca, e um tinto seco pela metade no meio de toda aquela inundação que foram as coxas de Lenora, eu pensei: “Poesia, eu fui feito pra você, ainda que você não tenha sido feita pra mim!”

Fernando Koproski
do romance CRÔNICA DE UM AMOR MORTO (livro 2 da série “A complicada beleza”) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/cronica-de-um-amor-morto-aut-paranaense-lv395564/p
A TEORIA DO ROMANCE NA PRÁTICA (livro 3 da série “A complicada beleza”) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/teoria-do-romance-na-pratica-a-aut-paranaense-lv395565/p
NARCISO PARA MATAR (livro 1 da série “A complicada beleza”) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/narciso-para-matar-aut-paranaense-lv395563/p
RÉU CONFESSO

fui viciado 20 anos nessa droga,
a droga da beleza
e isso não só me causou dependência

mas uma série de outros efeitos colaterais
recorrentes tais
como falta de ar,
arritmia,
alergia à objetividade,
distração,
miopia,
falta de atenção,
cinema,
sonoplastia,
livros de poesia
e canção

sim, senhores e senhoras,
respeitáveis membros do júri
e fiéis da igreja da insensibilização,

diante de vocês,
confesso essa inaptidão:

a droga da beleza
me causou problemas neurológicos
irreversíveis

no coração

Fernando Koproski
do livro A TEORIA DO ROMANCE NA PRÁTICA (livro 3 da série “A complicada beleza”) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/teoria-do-romance-na-pratica-a-aut-paranaense-lv395565/p
Cena 84 – O narrador e sua esposa Maria
Quase diálogo no café da manhã

– Penso em escrever um romance com essa dedicatória: “para o jardineiro, o músico, o viajante, o sonhador e o caçador”.
– Mas você tem uma história pra escrever?
– Não. Acho que não. Só sei que tive uns sonhos estranhos essa noite.
– Que tipo de sonho?
– Não sei. Parece que eu era um jardineiro ou eu sonhei que era um jardineiro. Na verdade, sonhei que era um jardineiro sonhando que era um girassol... Sacou?
– Não. Não mesmo.
– Era um sonho louco, ah, tive um monte de sonhos doidos, Maria. No meio de um deles, eu encontrava um livro. Abria ele, mas a maioria das páginas estava arrancada. E as poucas que sobraram ou estavam em branco ou rasuradas.
– De quem era esse livro?
– Acho que era um livro meu que eu nunca escrevi. Sei disso porque no sonho eu lia o título: Narciso para matar. Mas nunca escrevi nada com esse título.

Fernando Koproski
do romance NARCISO PARA MATAR (livro 1 da série “A complicada beleza”)
Apresentando duas cenas do meu romance NARCISO PARA MATAR:

CENA 4 – O ESCRITOR NO ESCRITÓRIO

Penso em criar uma musa para meu poeta
Uma musa só para fazer ele sofrer
Porque poeta que não sofre não é poeta
Assim já dizia meu tio Elvis, um profeta

Elvis dizia de um jeito que ele nunca cantou
“Quem nunca pensou em morrer
Quem nunca quis se matar, morrer de amor
Ah, nunca vai saber o que é viver”

Assim falou Elvis: “se um dia você acordar sem
Problemas, achando que tudo está bem
Pega um martelo, mas o que tiver à mão
E mira bem no meio do teu dedão”

“E arrebenta ele, sem dó nem piedade!”
– Mas por que fazer isso, tio Elvis?
“Porque poeta não foi feito pra ser feliz
Esqueça a felicidade, poesia não é caridade”

Poesia tem mais a ver com verdade
Já a beleza é só uma forma de anestesia,
Algo pra despistar o leitor da realidade
Antes de sentir na veia o baque da poesia
CENA 9 – CRIANDO UMA MUSA

Com essas candidatas à musa
Não há como ter inspiração
O poeta arregaça a manga da blusa
E tira uma carta do coração:

Uma musa para um poeta
Não precisa posar de puta
Com as pernas sempre abertas

Uma musa para um poeta
Não precisa posar de pura
Ou ler suas obras completas

Uma musa para um poeta
Precisa ser mais que a chuva
Lavando lágrimas pontiagudas

Uma musa para um poeta
Precisa ser mais que música
E sonhos para sua armadura

Uma musa para um poeta
Não precisa ler tratados de estética
Ou ter mestrado em cosmética

Uma musa para um poeta
Precisa antes de tudo ser uma mulher
Incomparável, exatamente igual a outra qualquer

Uma musa para um poeta
Precisa ser todo amor e toda a morte
que há dentro de uma mulher

Uma musa para um poeta
Precisa ter, se você tiver muita sorte,
Um antídoto pra essa morte na mesma mulher

Fernando Koproski
do romance NARCISO PARA MATAR (livro 1 da série “A complicada beleza”) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/narciso-para-matar-aut-paranaense-lv395563/p
COMO PUDE DUVIDAR

Parei de procurar por você
Parei de esperar por você
Parei de morrer por você
e comecei a morrer por mim
Envelheci rapidamente
Engordei no rosto
e criei barriga
e esqueci que algum dia te amei
Eu fiquei velho
Não tinha um objetivo, nenhuma missão
Ficava à toa comendo e comprando
roupas cada vez mais largas
e esqueci porque eu odiei
cada longo momento que cabia a mim preencher
Por que você voltou pra mim essa noite?
Não consigo nem levantar da cadeira
As lágrimas escorrem por meu rosto enfim
Estou apaixonado de novo
Eu posso viver assim

poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
do livro A MIL BEIJOS DE PROFUNDIDADE (2ª antologia poética de LEONARD COHEN) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/mil-beijos-de-profundidade-a-aut-paranaense-lv409219/p



CASA, COMIDA E ROUPA ENCARDIDA

a poesia não me deu casa,
comida, nem roupa encardida
poesia, eu vesti tua camisa

arregacei as mangas dos versos
fiz coisas que de tanto duvidar
até deus acredita

escrevi com sangue, coração
e o que mais estivesse à mão
até com o que meu ódio ojeriza

poesia, eu vesti tua camisa
mas você não me deu casa,
comida, uma passagem pra Ibiza

te dei meu corpo, alma e musa
mas você ainda abusa
e pede mais do que precisa

até hoje não me deu
nem um pastel de vento
mas quer que eu viva de brisa

Fernando Koproski
do livro RETRATO DO ARTISTA QUANDO PRIMAVERA (livro 2 da trilogia “Um poeta deve morrer”) - Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p
RETRATO DO AMOR QUANDO VERÃO, OUTONO E INVERNO (livro 3 da trilogia “Um poeta deve morrer”) - Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p
NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA (livro 1 da trilogia “Um poeta deve morrer”) - Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p

CORAÇÃO E MENTE

inexplicavelmente estamos sós
sós para sempre
e era pra ser
desse jeito,
não era pra ser
jamais de outro jeito –
e quando a luta com a morte
começar
a última coisa que quero ver
são
rostos de pessoas rodeando
sobre mim –
melhor apenas meus velhos amigos,
as minhas próprias muralhas,
que apenas eles estejam lá.

eu fui só mas raramente
solitário.
saciei minha sede
na fonte
que há em mim mesmo
e este foi um bom vinho,
o melhor que já provei,
e essa noite
sentado
olhando pra escuridão
agora finalmente compreendo
a escuridão e a
luz e tudo que há
entre elas.

chega uma paz no coração
e na mente
quando aceitamos o que
há:
ao nascer
nessa
vida estranha
nós temos que aceitar
o desperdício de aposta que são os nossos
dias
e obter alguma satisfação no
prazer de
deixar isso tudo
para trás.

não chore por mim.

não sofra por mim.

leia
o que escrevi
depois
esqueça
tudo.

beba da fonte
que há em você
e comece
de novo.

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
do livro MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p

Esse site italiano postou o poema "lovers" do Leonard Cohen em diversas traduções (italiano, húngaro, espanhol). Junto a essas, está a minha tradução "Amantes", que faz parte do livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR.  

Une grande base de données des chansons contre la guerre
ANTIWARSONGS.ORG
https://www.antiwarsongs.org/canzone.php?lang=fr&id=53779

ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana-lv220048/p
A MIL BEIJOS DE PROFUNDIDADE
http://www.livrariascuritiba.com.br/mil-beijos-de-profundidade-a-aut-paranaense-lv409219/p